30 de nov. de 2009
Economia
As lágrimas que escorrem
Dos olhos de quem desce
O morro da vida
São todas canalizadas
Para acabar com a sede
De quem está na subida.
26 de nov. de 2009
Com Fusão
Eu,
Que gosto docê,
Que gosta de mim,
Que gosto docê e de mim.
Você,
Que gosta de mim,
Que gosto docê,
Que gosta de mim e docê.
Nós,
Que gostamos tanto,
Desse monte de gosto,
E de gostar desse tanto sem fim.
Não sei.
Só sei que é bom
Gostar de um tanto,
Que nem dá mais pra gente sabê
se é bom ou ruim.
25 de nov. de 2009
Azar o Seu
Se um dia
Pedir-me conselho pro azar,
Eu direi:
Compre um pé de coelho.
Se um dia
Pedir-me dinheiro, azar.
Eu rirei:
Compre um coelho inteiro.
23 de nov. de 2009
Upgrade Ortográfico
para facilitar ainda mais o entendimento da língua portuguesa, seis novos tópicos foram acrescentados ao novo acordo ortográfico que passou a vigorar em janeiro desse ano. são eles:
1. com o intuito de nivelar o uso da língua, a partir dessa data todas as palavras devem ser escritas em letras minúsculas, com excessão das palavras "Deus", "Ave Maria" e "Ronaldo".
2. oxítonas terminadas em "mim" serão banidas por serem muito egocêntricas.
3. para acabar com o equívoco na pronúncia, o novo acordo prevê a mudança da grafia de algumas palavras, que passarão a ser escritas da seguinte forma: tóquicico, xéroquis, néquiço, convéquiço e séquiço.
4. o acento agudo da palavra "miocárdio" só não deverá ser usado quando existir risco de morte.
5. a serapação silábica da palavra "casa" só acontecerá se no acordo estiver prevista a comunhão de bens.
6. ditongos e tritongos não serão mais aceitos na língua portuguesa. com o novo acordo, só poliglotas e com, no mínimo, um curso de pós graduação serão permitidos.
20 de nov. de 2009
19 de nov. de 2009
Oferendas
Pra quem muito come: panela.
Pra bixo homem: donzela.
Pra bicho de pé: a chinela.
Pra quem não sabe o que quer: rodela.
Pra quem acha que muito é: cautela.
Pra quem tem fome na vida: vitela.
Pra noites mal dormidas: remela.
Pra calma na saída: cancela.
Pra despedida: janela.
Pra quem não vale um tostão: bagatela.
Pra quem já viveu um tempão: a fotonovela.
Pra temperar no fogão: a canela.
Pra correr do ladrão: a magrela.
Pra quem tem dente são: banguela.
Pra quem não tem um quinhão: a favela.
Pra correr do apagão: muita vela
18 de nov. de 2009
16 de nov. de 2009
Sabedoria Popular do Povo 01
Exerça o trabalho
De viver intensamente
Cada segundo,
Ou deixe o trabalho
Viver intensamente
Até não lhe sobrar um segundo.
De viver intensamente
Cada segundo,
Ou deixe o trabalho
Viver intensamente
Até não lhe sobrar um segundo.
Josinete
Josineti era bem diferente.
Cresceu viciada em internet.
Ao vivo, conheceu pouca gente.
Na rede, era a mais populete.
Só saía do quarto doente,
Ou então pra comer um croquete.
Depois de ouvir o fuxico
Que essa internet era um tédio,
Seus pais decidiram acabar com o futrico.
Precisavam encontrar um remédio.
Josinete ainda usava pinico,
Não podia sofrer tanto assédio.
Foram ao médico com Josinete.
A primeira ordem, cortar a internet:
"Criança pequena precisa brincar.
Esse negócio de orcuti e tuíti,
Fez meu casamento acabar em desquite.
Imagina se essa criança aprender a usar."
Retornaram pra casa com uma medida.
Cancelaram a internet tentando abrir a janela da vida.
Só não perceberam que essa saída
Só funcionaria no tempo do videocassete.
Nesse dia, a menina entrou para o quarto
E dormiu, sem enquete.
Na outra manhã,
Junto com a net,
A guria sumiu.
E mesmo sendo procurada,
A menina não foi encontrada.
Ninguém mais a viu.
13 de nov. de 2009
12 de nov. de 2009
O Crítico
O começo do filme
É o princípio da história.
Inicialmente, é a hora
Em que a trama começa,
Devagar, mas sempre firme.
O meio é meio mau.
Por ser ele a metade,
Fica longe do começo
E da sua finalidade.
Do filme, é a parte Central.
O final não surpreende.
Lá na parte derradeira,
Todo mundo só entende
A etapa terminal da brincadeira,
Quando surge, finalmente, o The End.
9 de nov. de 2009
Festa da Turma
A turma não se encontrava há muito tempo. Claudinha, a que sempre esteve à frente na organização das festas, tomou a iniciativa de juntar o pessoal novamente. A idéia era fazer desse encontro um grande momento para relembrar aqueles anos mágicos da faculdade.
Claudinha teve a idéia de fazer uma festa à fantasia. Cada um podia escolher a personagem que quisesse. Ela cuidou de tudo. Reservou o salão do prédio, mandou convite pra todos. Depois alugou algumas mesas, enfeitou o local e escolheu a fantasia. Iria de Madonna.
Os convidados começaram a chegar. De cara, um encontro inusitado marcou o começo da festa. Michael Jackson e Madonna no mesmo salão. Melhor, Claudinha e Ricardo, o ex-casal mais querido da turma. Um moonwalk cairia bem naquela hora, mas o máximo que Ricardo sabia fazer era dar uns gritinhos, que nada tinham a ver com os do verdadeiro Michael. Depois que Cláudia soube da outra de Ricardo, eles nunca mais se falaram. Mas era a noite da reconciliação, das saudades e dos reencontros.
Os convidados foram chegando e, como de costume, tinham os mais atrasados. Os primeiros foram recebidos com palmas, risinhos, gritinhos. Cada um que entrava era anunciado em coro pela turma, puxado pelo entusiasmado do Fernando, que ficou a noite toda ao lado da porta esperando o próximo convidado entrar. Ele era o engraçadinho da turma. Na maioria das vezes, o “engraçadinho demais pro meu gosto” da galera.
O clima começou a esquentar. A turma, já pra lá de São Tomé, estava bastante empolgada e os convidados continuavam a chegar, cada vez mais, recebidos com gritinhos e gracinhas. Os mais empolgados comentavam as fantasias dos que iam entrando.
Marcinha se sentiu ofendida quando Marcelo chegou fantasiado de prostituta. Começou a chorar e a gritar, dizendo que não foi por opção, na época ela precisava de dinheiro. Marcelo ficou constrangido. Nem se lembrava de Márcia. Alguns a consolaram, outros foram pra cima do Marcelo. Logo a confusão esfriou e a festa foi retomando o clima de descontração e euforia.
Quanto mais tarde ficava, mais a turma se empolgava, mais as lembranças vinham à tona, mais o clima ia esquentando. Heraldo chegou fantasiado de Collor. Uns gritaram “ladrão!”, outros “seu político!” e os gritos, cada vez mais altos, já não se referiam tanto à sua fantasia, como “seu tarado!”, “gostoso!”. Os homens, em geral, não gostavam de Heraldo. Já as mulheres... Ele era moreno, alto e forte. O único problema era a falta de inteligência. Culpa do excesso de anabolizantes e entorpecentes que costuma usar enquanto faltava algumas aulas. Nunca reprovou por nota baixa, é preciso dizer. Só mesmo por falta.
Quando Pablo chegou, a confusão aumentou. Todos o reconheceram fantasiado de Silvia, a professora mais amada e odiada da Faculdade. “Ame-a ou deixe-a”, era como ela era chamada pelos alunos da época. Metade da turma que estava na festa havia sido reprovada pela ditadora. A outra metade, não poupava elogios à bruxa. A primeira garrafa voou por toda a sala e foi quebrar na porta, atrás do Pablo. Em seguida vieram outras de direções distintas. Uns se empolgaram e jogaram copos, outros talheres, alguns aproveitaram a desordem pra jogar fora aquele pão com patê meio estragado que a Claudinha preparou. Os mais apaixonados resgataram os amores deixados no tempo. Claudinha e Ricardo, por exemplo, se amassaram ali mesmo, na frente de todo mundo, inclusive do namorado de Cláudia.
A festa terminou mal. Mas mau mesmo ficou pra Claudinha. Contabilizando o prejuízo do salão mais o fim do namoro, só a morte lhe traria mais danos. Alguns falaram que iam ajudar, mas logo foram embora carregados por outros.
Claudinha não se importou muito com tudo. A festa virou um pretexto. Depois da traição de Ricardo, Claudinha ficou mal, mas nunca conseguiu esquecê-lo. Ele também, se arrependera bastante do que fez. Chegou a mandar recado pela rádio da faculdade pedindo o perdão de Cláudia em praça pública. Mas ela era muito orgulhosa.
Hoje, aos 30 anos, mais madura, Cláudia estava pronta pra perdoá-lo. Essa tática de se vestir de Michael deu certo. Rircardo sabia da paixão de Cláudia pelo cantor. A única condição que Cláudia impôs à Ricardo foi que ele parasse com aqueles gritinhos.
6 de nov. de 2009
Ao Pé da Letra
Telefone toca, moça atende e do outro lado da linha alguém fala:
- Boa tarde.
- Obrigado!
- (...) quem fala?
- Todos!
- Todos o que?
- Todos falam.
- Ahm???
- Você me perguntou quem fala, eu respondi que todos. Todos falam. Tirando os animais irracionais, é claro.
- Ahm... Tá! eu gostaria de falar com o Márcio.
- Que bom! O Seu Márcio é mesmo um cara bacana. Muita gente gostaria de falar com ele, sem dúvida. E você quer deixar isso registrado? como é?
- Olha! Não estou entendendo muito isso daqui, mas o Márcio está?
- Onde?
- Onde o que?
- Você me perguntou se o Márcio está e eu te perguntei "onde?".
- Aí, poxa! Ele está aí?
- Está, sim senhor.
- (...) Alô?
- Opa!
- E o Márcio?
- O que tem o Seu Márcio?
- Você pode ir chamá-lo, por-fa-vor?
- Depende. Você quer que eu o chame quando?
- Se puder ir agora, nesse exato momento, eu agradeço.
- Ah tá. Então liga mais tarde que agora eu não posso não. A cozinha está cheia de louça suja pra eu lavar e eu ainda tenho que arrumar o quarto dos meninos.
- Olha, sem querer ser chato, mas eu só vou pedir mais uma vez. Eu preciso falar com o Márcio!
- Está bem!
- (...) Alô?
- Opa.
- Você não foi chamar o Márcio???
- Olha, doutor. Não estou entendendo mais o senhor. Primeiro Você disse que só ia pedir mais uma vez. Agora, está aí falando de novo e de novo...
- Céus! Moça, pode deixar. Esquece que eu liguei. Eu só queria... Eu gostaria só de... É que eu quereria... Hunf! Tchau!
5 de nov. de 2009
Fofocas
Claudinha falou pro Fernando
Que estava achando que ia chover.
Fernando, muito precavido,
Falou pro coitado do Hernando,
Que uma tempestade ia vindo.
Hernando, já desesperado,
Correu no vizinho ao lado,
Seu grande amigo,
Que tinha na casa
Um abrigo contra furacão.
O vizinho,
Que não era bobo nem nada,
Subiu na sacada e gritou:
"Corre, negada! está vindo um tufão".
Sem saber,
A cidade foi toda tomada
Por pânico e destruição.
As autoridades chegaram e espalharam
Que o ataque vinha do Japão.
Logo os Estados Unidos entraram
Dizendo que, em branco,
Isso não passaria.
Mandou o que tinha
De ultra moderno em artilharia.
Os alemães,
Então pês-da-vida,
Não aceitaram
Quando escutaram
Que os americanos chamaram
De 'quenga' sua mãezinha querida.
Daí, começou-se outra guerra.
E a paz que Claudinha queria,
Debaixo da chuva que vinha, já era.
Tudo culpa de uma fofoquinha.
4 de nov. de 2009
Severino e a Torneira Solta
Existe uma história
Que corre o sertão
De um bravo menino.
Nome: Severino.
Quando nasceu,
Ninguém percebeu
O que tinha, o garoto,
De tão diferente.
Era, Severino,
um menino doente.
Dizem uns outros,
Que é na moléstia
E também da modéstia,
Que brota a coisa mais honesta
No pobre sertão:
Severino encontrou compaixão.
Tanto sofrimento
Envolvido na terra
Tanta gente que chora
E que berra de fome e de sede.
Resolveu, Severino,
Começar, de repente,
Uma revolução.
Sua perturbação
Era a sua aliada.
Pra começar
A dar como encerrada
Essa história
De que no Sertão
Falta água encanada,
O guri começou
A tal reviravolta
Se apegando na crença,
E também abusando da própria doença.
Sua torneira solta,
É o que o povo conta,
Não foi o que fez
O sertão virar mar,
Mas fez muita gente
Chorar de emoção.
E com a água salgada
Do choro do povo
Logo o sertão virou mar,
De novo.
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