16 de out. de 2009

Maridão



Neste casamento, podia-se dizer que o marido era a mulher, e a mulher era o macho da relação. Tudo que ela queria, o maridão fazia e ai dele se não fizesse. E não passava em branco. Todo dia a maridona fazia questão de deixá-lo mais mulherzinha. Sempre tinha um motivo para uma nova bronca. Até que o homenzinho da relação falou mais alto. Claro que apanhou, mas falou e não ficou só nisso:

- Eu não agüento mais essa vida. Vou embora!

Depois de umas cacetadas bem dadas, ele saiu mesmo de casa. Está certo que não foi pela porta da frente, mas a janela também fica na frente, seu orgulho não foi tão ferido. Doído mesmo foi cair sobre a roseira do quintal, mas pra quem já tinha apanhado do tanto que apanhou, não fazia diferença.

- Você vai voltar, eu sei! Você não vive sem mim. E quando voltar vai apanhar ainda mais.

Foram as últimas palavras da sua amada. Mas ele foi mesmo embora de casa. Sem saber pra onde ir, afinal ele só tinha isso, uma casinha e uma mulher, acabou parando no bar onde encontrou alguns amigos. Contou sua história aos companheiros que se orgulharam da atitude de homem que tomou em sua vida.

Conversa vai, conversa vem, encorajado por alguns e também pela cerveja, o maridão decidiu ligar pra casa e dizer pra esposa que agora estava feliz com a sua nova vida.

- Alô!

- Êpa! Quem está falando?

- Rogério! Quem fala?

- Quem fala? Aqui quem fala é o cara que vai acabar com você! está ouvindo, seu tarado? Cadê minha mulher? Passa pra ela!

- Aqui não tem mulher de ninguém! Quem está falando?

- Seu cretino! Eu sabia que ela também não valia nada. Passa pra ela que...

O cara do outro lado da linha desligou o telefone. Isso deixou o maridão ainda mais nervoso. Decidido, resolveu ir até a sua casa encarar a situação e o cara da voz rouca. Quando chegou era tarde. As luzes estavam apagadas, a porta trancada. Decidiu entrar pelo mesmo buraco que saiu. De tão bêbado, quando conseguiu entrar, estava impregnado de espinhos e folhas da roseira.

O plano era entrar em silêncio, mas o álcool já havia tomado conta do seu corpo. Saiu esbarrando em tudo que tinha pela frente até chegar ao quarto. Devagar, foi abrindo e preparando o flagrante. Antes de pensar em o que dizer, tomou uma paulada nas costas, outra na perna e caiu.

- Eu sabia que você ia voltar, seu cachorro. Você não vive sem mim.

- Cadê o tarado?

- Que tarado, homem?

- Rogério, o do telefone. Cadê? Eu vou matar esse cara!

- Deixa de conversa e vira homem! Que desculpa é essa pra voltar?

- O da voz rouca. Você sabe! Para de me enrolar! Você não me ama mais...

- Para de chorar! Rogério da voz rouca? O seu cunhado? De tão bêbado você ligou pra sua irmã! Eu não acredito que você fez isso. Que vergonha do Rogério.

- Você me traiu com o meu cunhado?!

- Ai! Você me paga!!!

E então o maridão apanhou mais um pouco até pegar no sono, ali mesmo no chão. Mas era assim que ele gostava. Na vida ele nunca foi assim, um maridão. Sempre foi um filhinho, que gostava de apanhar e ouvir as broncas da mãe. Talvez fosse só preguiça. As broncas foi o jeito que arrumou pra pagar pela sua pouca disposição em ajudar. Com outra pessoa, talvez não conseguisse levar a vida assim, tão mansa. Sua mulher também sabia que aquele era o jeitão do marido. Apesar do cansaço, ela gostava, mas não podia fazer o serviço todo assim, de graça.

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