5 de fev. de 2010

O Carteiro Falante

Há muito tempo atrás, nos tempos de pé-de-guerra, existiu um rapaz que ficou muito falado e conhecido por sua generosidade. Diferente dos outros serviços de comunicação prestados à comunidade, o moço de pouca idade entitulava-se “O Carteiro Falante”. Seu trabalho era o seguinte: enquanto os homens das donzelas saiam para as batalhas contra os bárbaros, os ótimos, as bestas e os demais (monstros, dragões, urubus, tribufus, barangos), o Carteiro Falante ia de casa em casa, convocando as mulheres a se sentarem em suas varandas enquanto declamava os recados enviados por seus homens. As mulheres entusiasmavam-se por terem notícias de seus homens. Em troca, o Carteiro só lhes exigia uma resposta, em forma de carta escrita, redigida, rabiscada e digitalizada (impregnada de digitais) para ser enviada aos seus guerreiros amados.

O serviço que o Carteiro Falante prestava era, fundamentalmente, de utilidade pública, uma tentativa de tapar uma parte do buraco cavado pela saudade. Porém, nada ali declamado era verdade. É verdade que poucas duvidavam da veracidade do conteúdo poético-prosaico do Carteiro Falante, mas, não por isso, o rapaz foi condenado. Daí você me pergunta: “e o que ele fazia com as cartas que as donzelas redigiam?”. Isso jamais foi desvendado. Existem boatos que sugerem que o Carteiro era um homem solitário e que mal dormia. Por isso, gastava suas noites propagando histórias, enchendo os corações das senhoras (dos outros) de esperança e de boa saudade, para, em troca, nas madrugadas, poder sonhar a sua própria história de amor, lendo carta por carta e imaginando serem, todas, de suas amadas.

Abaixo transcrevo um trecho do texto introdutório às histórias que o pobre Carteiro Falante declamava às saudosas donzelas:

“Bom dia, minha senhora! Já tomou o seu café? E o banho? Vai outrora? Então venha aqui pra fora, pois lhe trago uma mensagem deferente de um velho conhecido que assina “Seu marido”, que também é “Seu querido”, “Seu amado”, “Idolatrado”, "Tão vivido", “O seu amor”. Se aprochegue na varanda que eu já vou começar a ladainha. Preste muita atenção na encenação, pois todas minhas caretas são suspeitas, mas porque também são pura imitação da representação que o seu velho me fez. Pois então, vamos começar. É um, é dois e é três (...)“.

5 comentários:

Lucas Gondim disse...

É xará, tu tá ficando bão no trem! :P gostei muito desse tb. massa.

Rubo Medina disse...

Era na realidade, o Vendedor de Boas Ilusões (tanto pra si quanto pras outras). Muito boa, Lucas.

Clarissa disse...

dava um bom roteiro!

Clarissa disse...

dava um bom roteiro!

Lucão disse...

Que bacana! obrigado!
:)