29 de set. de 2009

A Correria


O plano estava pronto em minha cabeça. Eu deveria ser rápido, sem deixar evidências. Deveria, também, evitar testemunhas para impedir qualquer constrangimento depois. Por isso, precisava ser cauteloso e esperar a hora certa para agir.


Tocou a sirene do recreio. Era a hora. Ela saiu da sala, estava linda. Mais até do que deveria. Foi para o lugar de sempre, de frente às salas do pré e do maternal. Lá era mais tranqüilo e ela não gostava da bagunça que se transformava o pátio do colégio. Como eu gostava dela.

Tomei coragem e fui. Eu sabia o que tinha que fazer. Estava tudo pronto dentro da minha cabeça. Só precisava respirar um pouco mais fundo. Fui chegando mais perto e quanto mais próximo, mais nervoso eu ficava. Mas não tinha outro jeito, tinha que ser naquela hora.

Quando resolvi falar, ouvi o pentelho do Juninho gritando atrás de mim e correndo feito um louco:
- Pedrinho! Pique-pega! CORRE!!!
Sem pensar, comecei a correr e a gritar:
- FERNANDA! EU TE AMO!!!

E o Juninho, atrás de mim, não parava de correr. Eu estava assustado. Foram dias me preparando para aquele momento. Agora eu estava ali, feito um doido, gritando o nome da menina mais linda da escola e com o menino mais chato na minha cola.

Quando vi, Fernanda também estava correndo atrás de mim, gritando o que eu achei que fosse “Você não é homem!!!”. Anos depois eu soube, por ela mesma, que só queria saber o meu nome. No meio daquela bagunça não daria para escutar nada mesmo.

No fim, eu só consegui ser rápido, como tinha planejado, e todo mundo virou testemunha do meu amor por Fernanda. Mas infância é assim mesmo, às vezes a gente passa da conta, n’outras a gente deixa de fazer sem se dar conta que era besteira. Mas o que vale mesmo é ter histórias pra contar.

28 de set. de 2009

A Verdade Sobre o Amor



O amor me deixa meio zonzo.
Bom que eu sou muito seguro.
Seguro muito bem o queixo se te vejo.
Se te beijo no escuro, caio duro.
Amor é a doce candura,
Do herói e do vilão.
Faço o tipo durão,
Mas, na verdade,
Sou o esboço
Do tipo cheio de paixão,
Pele, pescoço e osso.
O amor é a coisa mais pura
Feita pela cabeça dura
E pelo mole coração.

25 de set. de 2009

Caso Perdido



Em um dia difícil,
Maria se perdeu
Na esquina da razão com a emoção.
Onde estava o seu carro?
Quando pisou na emoção,
Desabou a chorar.
Quando foi pra razão,
Viu que estava escorada
Em seu caso perdido.


23 de set. de 2009

A Saída


Pedrinho acordou diferente.
Teve um sonho cheio de gente.
Todos pediam-lhe ajuda.
“Vamos, Pedrinho. Madruga!

Levantou e comeu.
Correu pro quintal.
Pegou uma colher.
Escolheu o local.

Pedrinho pôs-se a cavar,
E quando avistou uma luz,
O menino voltou pro seu lar e gritou:
“Está pronto, meu povo! Quem vos conduz?”

O primeiro a chegar
Era um pobre velhinho.
“Pronto, senhor. Pode entrar”
O velho entrou e sumiu devagar.

No buraco, outro homem entrou.
Antes de partir, ainda lhe falou:
“Obrigado, Pedrinho.
Você me salvou.”

O terceiro era uma criança.
Apesar de pequena,
Perdia a esperança.
Queria uma vida que valesse a pena.

Por último, uma mulher.
Essa sabia o que queria.
Queria apenas partir
Sem saber para onde iria.

Foi então que Pedrinho enxergou
Que para algumas pessoas, na vida,
Pouco importa onde fica a entrada
Quando, no fim, elas só querem a saída.

21 de set. de 2009

Mar de Gente



Tem gente
Que dá passos
Maiores que as pernas.
Tem gente
Que não dá um passo
Com as próprias pernas.

Tem gente
Que cresce
Rápido demais.
Tem gente
Que é grande
Mas demora a crescer.

Tem gente
Que nunca chora.
Chora quem
Não tem gente.
Só não chora
Quem não sente.

Tem gente
Que é fraco
Da memória.
Tem gente
Que...
Que...

15 de set. de 2009

Mudanças



Por mais que doa,
É preciso largar a velha canoa,
Pois, se a lagoa virar mar
A canoa também pode virar.

8 de set. de 2009

Pizza Alemã

Ingredientes:

2 dúzias de deputados
1 senado inteiro
1/2 kg de crise mal passada
Sal grosso
3 caminhões de terra


Modo de preparo:

Deixe a crise fritar por alguns mandatos. Pique bem os deputados e senadores. Despeje sal grosso sobre os corpos... digo, sobre os ingredientes. Vire devagar os caminhões de terra sobre eles. Misture. Ferva ao sol por alguns dias.

Dica: antes de picar os deputados e senadores, retire o excesso de bens, como imóveis, carros e aviões.

Porção: 184 milhões de pessoas.

6 de set. de 2009

De Uma Ponta à Outra


Apanhou.
chorou.
Mamou.
Sorriu.

Mamou.
Dormiu.
Mamou.
Dormiu.

Mamou.
Mamou.
Mamou
Dormiu.

Falou
Andou.
Correu.
Cresceu.

Caiu.
Chorou.
Brigou.
Chorou

Brincou.
Cantou.
Estudou
Beijou.

Correu.
Caiu.
Ergueu.
Seguiu.

Ganhou.
Cresceu.
Perdeu.
Sentiu.

Enrugou.
Sofreu.
Parou.
Pensou.

Reconsiderou.

Voltou.
Brincou.
Cantou.
Sorriu.

5 de set. de 2009

Carta de um Possessivo


Meu amor, sinto tanta saudade. O tempo pára enquanto fico imaginando como seria estar agora ao seu lado. O tempo passa e eu não consigo mais ficar um minuto distante do seu carinho, do seu amor. Por isso aqui me sentei, para te dedicar algumas sinceras palavras.


O que sinto agora, enquanto lhe escrevo, é muita vontade de tê-la para sempre e só para mim. Tamanha saudade, não conseguirei terminar esta carta. Espero que, enquanto lhe escrevo, estejas também pensando em nós dois. Assim que puder estarei de volta.


Na verdade, logo estarei de volta. Assim que desligar o computador, voltarei aos seus braços. Para nossa cama. Essa falta de sono me tirou de você. Agora, enquanto escrevo-te, vejo que não valeu a pena lhe deixar só.


Espero que não brigue comigo por lhe escrever essa carta de amor a essa hora da madrugada. Já consigo ouvir sua voz me chamando. Por que você está gritando? Tá. Eu já ouvi, acalme-se. Estou voltando. Não briga comigo. Desculpa, amor. Não vou mais mexer no computador de madrugada. O que? Ei, acalme-se! onde é que você vai? O que é isso? Não joga! Meu Deus!!!

4 de set. de 2009

Os Segredos de Pedro

O dia não terminou bem para Pedrinho. Ficou até tarde na rua, jogando bola com os amigos, mesmo com a ordem de sua mãe de voltar antes do anoitecer. Por isso, teve que ouvir a bronca e a sentença: sem videogame por um mês.


Entrou para o quarto chateado. Sua mãe não poderia ter sido mais cruel. Isso não ficaria barato. Para resolver o problema, Pedrinho arriscaria o sigilo dos seus mais secretos poderes.


Primeiro, pensou em usar a sua roupa de invisibilidade para sair despercebido de casa, mas se lembrou que ela estava sem pilha, e a essa hora, dificilmente encontraria um mercado aberto.


Foi para a segunda opção: sair voando pela janela do quarto usando a super cueca que ganhou do seu tio no último natal. Era só colocá-la por cima da roupa e voar. Mas o tempo estava meio fechado e Pedrinho achou meio arriscado. Sua mãe havia lhe alertado sobre a gripe.


A última opção era ligar pro seu amigo André e pedir emprestada a imbatível espada justiceira, pois, se ainda existia justiça no mundo, era por causa da espada. Porém, Pedro se lembrou que seu amigo dormia cedo, obedecia à risca os seus pais. Afinal, a espada era mesmo justa, inclusive com os pais de André.


Então resolveu deixar tudo como estava. Não seria prudente, até para o seu bem, revelar assim, de uma hora pra outra, todos os seus segredos.


Seus pais, que não eram mais crianças, poderiam não entender e acabariam enlouquecendo com tamanha surpresa. Seus heróis, que sempre fingiram ser de mentira, também não ficariam contentes com a conduta de Pedro.


Assim, deitou-se um pouco mais tranquilo. Seus pais não tinham mesmo culpa por terem crescido.

3 de set. de 2009

Eu Não Sei Cantar o Hino


No meu tempo de menino,
Ainda preso à escola,
Sempre tinha aquela hora
De todos cantarem o hino.

Primeiro, eu não sabia
Se botava as mãos nas bolas,
Se jogava as mãos pro alto,
Se era sério ou sorrindo.

Começava a cantoria,
Terminava o meu temor.
Dali pra frente estava certo,
Mais um filme de terror.

2 de set. de 2009

Meu diLema


Não vou contestar o lema,
Só vou contextualizar:
Faça o certo pra valer a pena
E pra pessoa errada usar.