7 de out. de 2009

Filho do Mar


A sua paixão era a sua labuta. Era pescador. Tanto gostava que, mesmo quando a noite chegava, era difícil tirá-lo do mar. No tal do oceano o pescador encontrou seu amor. Ela também pescava, e amava a tal água salgada.

Desse amor de jangada nasceu uma criança que encheu os olhos do pai de esperança. Seu filho ia ser pescador. Tão cedo os olhos se abriram, seus pais o pegaram e partiram. Levaram o filho pro meio do mar. Ia logo aprender a pescar.

Primeiro, era muito importante aprender que nem tudo que pescavam podiam comer. Tinha peixe grande que não podia pescar. Precisava voltar para o mar. Na primeira fisgada, seu pai trouxe ao barco um peixão. Na ânsia de soltar o marinho, não percebeu que jogou o seu filho ao mar. E o peixão, no barco, não podia ficar.

Muito atordoado, o pai pulou ao mar assim que viu o engano. Foi atrás de seu filho. Sua mãe ficou desesperada. Dessa vida não queria mais nada além do seu pequenino. Com a chegada da noite, seus pais se consolaram. O menino, não encontrariam. Voltaram pra terra, praquela vida vazia. O que fariam, ninguém sabia. Alguma coisa aconteceria.

Anos se passaram. Mãe e pai tocaram suas vidas em frente. Agora em terra firme, pro mar nunca mais voltariam. Até, de repente, suas vidas se encherem de calos. Pro mar, teriam que embarcar. Precisavam comer pra viver.

Quando a jangada partiu, a mãe ficou emocionada. Era difícil recordar o passado. O tempo passou e ela nem viu.

A luta no mar foi difícil. Enquanto o pai se cansava tentando pescar, a mãe se agüentava tentando atar a emoção. Ela sabia que era da pesca que ia tirar o tostão pra viver.

Dois dias se passaram e nada de peixe. O mar nunca foi tão sozinho. Onde estava a vida salgada daquela imensidão? Na luta, pai já não tinha mais força. Era a mãe quem tentava pescar alguma coisa antes de desistir e cair.

Estirados na embarcação, pai e mãe não podiam mais nada fazer a não ser desistir. E de supetão, quando tudo parecia ter acontecido, nas águas começou um agito. Peixes começaram a pular pra jangada. Era tanto peixe que os dois não enxergaram mais nada em meio ao cardume que chovia do mar.

Em meio à alegria estampada, pai e mãe se sentaram no último espaço que sobrou da jangada. Se abraçaram e, sem pestanejar, o pai que falou: esse milagre eu sei bem quem fez. Nosso filho se foi bem aqui, nesse mesmo lugar. O filho que um dia foi nosso, hoje é, sem dúvida, o filho do mar.

Na partida de volta pra casa, a mãe, ao se virar para trás, como num vulto, conseguiu enxergar bem no meio do mar dois pontinhos brilhantes, e não teve dúvida: era seu filho. Os olhos radiantes eram iguais aos do pai quando a olhou pela primeira vez.

Depois daquele dia, os pais se encorajaram e voltaram a pescar. Na ida, a mãe se enchia de alegria. É que, no fundo, ela sabia que sempre que ia, ficava mais perto do filho do mar, o grande amor da sua vida.

Um comentário:

iuLa disse...

Ah amor, ficou ótimo mesmo. Você é fera demais. =D