9 de nov. de 2009

Festa da Turma














A turma não se encontrava há muito tempo. Claudinha, a que sempre esteve à frente na organização das festas, tomou a iniciativa de juntar o pessoal novamente. A idéia era fazer desse encontro um grande momento para relembrar aqueles anos mágicos da faculdade.

Claudinha teve a idéia de fazer uma festa à fantasia. Cada um podia escolher a personagem que quisesse. Ela cuidou de tudo. Reservou o salão do prédio, mandou convite pra todos. Depois alugou algumas mesas, enfeitou o local e escolheu a fantasia. Iria de Madonna.


Os convidados começaram a chegar. De cara, um encontro inusitado marcou o começo da festa. Michael Jackson e Madonna no mesmo salão. Melhor, Claudinha e Ricardo, o ex-casal mais querido da turma. Um
moonwalk cairia bem naquela hora, mas o máximo que Ricardo sabia fazer era dar uns gritinhos, que nada tinham a ver com os do verdadeiro Michael. Depois que Cláudia soube da outra de Ricardo, eles nunca mais se falaram. Mas era a noite da reconciliação, das saudades e dos reencontros.

Os convidados foram chegando e, como de costume, tinham os mais atrasados. Os primeiros foram recebidos com palmas, risinhos, gritinhos. Cada um que entrava era anunciado em coro pela turma, puxado pelo entusiasmado do Fernando, que ficou a noite toda ao lado da porta esperando o próximo convidado entrar. Ele era o engraçadinho da turma. Na maioria das vezes, o “engraçadinho demais pro meu gosto” da galera.

O clima começou a esquentar. A turma, já pra lá de São Tomé, estava bastante empolgada e os convidados continuavam a chegar, cada vez mais, recebidos com gritinhos e gracinhas. Os mais empolgados comentavam as fantasias dos que iam entrando.

Marcinha se sentiu ofendida quando Marcelo chegou fantasiado de prostituta. Começou a chorar e a gritar, dizendo que não foi por opção, na época ela precisava de dinheiro. Marcelo ficou constrangido. Nem se lembrava de Márcia. Alguns a consolaram, outros foram pra cima do Marcelo. Logo a confusão esfriou e a festa foi retomando o clima de descontração e euforia.

Quanto mais tarde ficava, mais a turma se empolgava, mais as lembranças vinham à tona, mais o clima ia esquentando. Heraldo chegou fantasiado de Collor. Uns gritaram “ladrão!”, outros “seu político!” e os gritos, cada vez mais altos, já não se referiam tanto à sua fantasia, como “seu tarado!”, “gostoso!”. Os homens, em geral, não gostavam de Heraldo. Já as mulheres... Ele era moreno, alto e forte. O único problema era a falta de inteligência. Culpa do excesso de anabolizantes e entorpecentes que costuma usar enquanto faltava algumas aulas. Nunca reprovou por nota baixa, é preciso dizer. Só mesmo por falta.

Quando Pablo chegou, a confusão aumentou. Todos o reconheceram fantasiado de Silvia, a professora mais amada e odiada da Faculdade. “Ame-a ou deixe-a”, era como ela era chamada pelos alunos da época. Metade da turma que estava na festa havia sido reprovada pela ditadora. A outra metade, não poupava elogios à bruxa. A primeira garrafa voou por toda a sala e foi quebrar na porta, atrás do Pablo. Em seguida vieram outras de direções distintas. Uns se empolgaram e jogaram copos, outros talheres, alguns aproveitaram a desordem pra jogar fora aquele pão com patê meio estragado que a Claudinha preparou.
 Os mais apaixonados resgataram os amores deixados no tempo. Claudinha e Ricardo, por exemplo, se amassaram ali mesmo, na frente de todo mundo, inclusive do namorado de Cláudia.

A festa terminou mal. Mas mau mesmo ficou pra Claudinha. Contabilizando o prejuízo do salão mais o fim do namoro, só a morte lhe traria mais danos. Alguns falaram que iam ajudar, mas logo foram embora carregados por outros.

Claudinha não se importou muito com tudo. A festa virou um pretexto. Depois da traição de Ricardo, Claudinha ficou mal, mas nunca conseguiu esquecê-lo. Ele também, se arrependera bastante do que fez. Chegou a mandar recado pela rádio da faculdade pedindo o perdão de Cláudia em praça pública. Mas ela era muito orgulhosa.

Hoje, aos 30 anos, mais madura, Cláudia estava pronta pra perdoá-lo. Essa tática de se vestir de Michael deu certo. Rircardo sabia da paixão de Cláudia pelo cantor. A única condição que Cláudia impôs à Ricardo foi que ele parasse com aqueles gritinhos.


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