1 de fev. de 2010

Cão Tristeza

Um dia, ganhei um cão de presente. Chamei-o carinhosamente de Tristeza. Custoso como só ele, Tristeza fazia o que queria lá em casa. Até tentei controlar o danado, mas com Tristeza não tinha jeito, era dele o reinado. 

Um dia Tristeza fugiu. Meio confuso, não sabia se ia atrás ou deixava Tristeza de lado. Foi aí que ouvi uma voz de criança gritando lá de fora: “Olha mamãe! Que cão mais bonito. Posso ficar com ele?”. Aquilo me deixou atrapalhado. Como podia alguém gostar de Tristeza? Foi então que resolvi fingir que não tinha dono. Esperei um pouco antes de ir lá fora ver se Tristeza já tinha ido embora. A menina o carregava no colo com tanta alegria. De longe ainda ouvi sua mãe lhe perguntar qual seria o nome do cãozinho. Antes que respondesse, gritei: “É tristeza o nome dele!”. Na hora, tristeza pulou do colo da menina e veio correndo pra mim. Veio tão rápido que quase caí. Depois Tristeza ainda mordeu meu calcanhar antes de entrar correndo pra casa. A mordida doeu. As brincadeiras de Tristeza, quase sempre, me machucavam. Mas foi aí que eu entendi de verdade a importância de tê-lo em casa. No fundo, eu gostava dele. Na verdade, só quando conheci Tristeza que descobri o que era ser mesmo feliz.

Hoje, Tristeza não é mais o rei. A gente divide o trono. Ele não dorme mais comigo. Tem seu próprio quarto. Vez ou outra, escondido, ele chega e se ajeita por ali, na pontinha da cama. Mas hoje ele me obedece. É só eu dizer “Vai pro seu quarto, tristeza!” que ele sai rapidinho, com o rabo entre as pernas. Com Tristeza é assim: ou você o aceita com todos os defeitos mas trata logo de deixar claro quem que manda ou ele logo toma conta de tudo, na maior folga e frieza.